FINANCIAMENTO DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL

22-12-2016 15:37

 

FINANCIAMENTO DA INOVAÇÃO EMPRESARIAL

importância e sustentabilidade

 

Renato Filipe da Conceição Albernaz

 

Mestrado em Gestão Empresarial

Ano Lectivo

Abril/2013

 

Resumo:

 

O tema deste ensaio foi escolhido na convicção de que a inovação e criatividade é o motor da economia global, perfilando-se o financiamento como fonte de energia que faz trabalhar toda a engrenagem. O presente ensaio procurou enquadrar a importância do processo inovação no contexto empresarial enquanto fator relevante do desenvolvimento e sustentação da economia global, apoiado num espírito empresarial favorável ao financiamento. Este trabalho é de natureza exploratória e descritiva; exploratória porque permite abrir caminhos para futuros trabalhos e descritiva pois, não assume a pretensão de generalização. Este ensaio permite concluir que existe uma diversidade de fontes de financiamento prontas a dar corpo as ideias criativas que se constituam com valor, quando suportadas com estudos de viabilidade económica que demonstrem de forma credível que as mesmas libertarão cash flows que permitam aos seus investidores correr os riscos inerentes a inovação.

 

Innovation distinguishes between a leader and a follower” – Steve Jobs

“ Never before in history has innovation offered the promise of so much to so many in so short a time.” - Bill Gates - Microsoft

 

1.    Introdução

 

Dos inúmeros contributos feitos por os mais diversos autores sobre a temática da inovação constata-se ser este onde reside um dos maiores se não o maior desafio do homem enquanto agente e dinamizador da sociedade em que se insere, provocador da sua sustentabilidade económica, social e ambiental.

 

Baer, markus (2012), num contexto diferente do financiamento referiu que a mera produção de ideias criativas não implica necessariamente a sua implementação, no entanto sem financiamento, existem simplesmente ideias criativas, com valor percecionado pelo cliente, com menor probabilidade de concretizar a sua implementação. Richard Miller, senior vice-president da National Association of Seed and Ventures Funds, no 9.º encontro nacional de inovação COTEC Portugal (Associação portuguesa que têm como missão promover a competitividade das empresas localizadas em Portugal, através do desenvolvimento e difusão de uma cultura e de uma prática de inovação, com base no conhecimento residente), que se realizou no passado dia 9 de Maio de 2012, no Grande Auditório da Culturgest, em Lisboa, subordinado ao tema do financiamento da inovação empresarial, definiu inovação na óptica do financiamento como a implementação lucrativa de ideias, conceito que na sua opinião tem de passar a estar no centro do modelo de desenvolvimento económico, no que apelidou de um novo paradigma de inovação, onde a prova da «relevância comercial» assume lugar de destaque. «Já Darwin dizia: não é o mais forte da espécie que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta à mudança», notou Richard Miller. Sera o constante alimentar do processo da inovaçao, nas suas diferentes fases da cadeia que o compoe, alinhado pelo paradigma que proporcionará sucesso as inovaçoes, libertando excedentes financeiros para reiniciar o processo que por sua vez alimentará o crescimento económico dando-lhe sustentabilidade.

 

O ensaio abordará a inovação enquanto processo, inserido num ecossistema que o alimenta, fomenta e sustenta, na perspetiva dos agentes financiadores, que deve estar alinhado pelo paradigma de que a evoluçao teconogica alem de funcionar tem que ser vendavel, situaçao crucial para o sustentado crescimento economico que permitira libertar excedentes para reiniciar todo o processo, desde a simples ideia criativa ate a sua implementaçao/adopçao pelo mercado com sucesso.

 

O ensaio encontra-se estruturado em três partes gerais distintas, mas complementares, a inovação enquanto processo e o su papel fundamental no crescimento economico e na sustentabilidade da economia de mercado, as fontes de financiamento, características e tipos que a suportam, sustentam e dinamizam e uma terceira parte sobre os suportes de decisão ao investimento/financiamento.

 

2.    Desenvolvimento

 

1 – Economia de Mercado e Inovação

 

Inovação é então um processo de elevada importância e de fundamental contributo para a alavancagem do bem-estar das sociedades, realidade que o tecido empresarial em particular e a sociedade em geral nos seus mais diversos agentes parecem não ter ainda percebido. A inovação não é um fenômeno novo. Indiscutivelmente, é tão antiga quanto a própria humanidade. Parece haver algo inerentemente "humana" sobre a tendência a pensar em maneiras novas e melhores de fazer as coisas e para testá-los na prática. (Fagerberg, J, Mowery, C. D., Nelson, R.R., 2011).

 

Vivemos mergulhados num sistema de economia de mercado, sendo a sua existência e as suas respostas preponderantes à sobrevivência do ser humano em comunidade, tendo a inovação um papel ativo nessa concretização. Foi graças a inovação que aprendemos a comunicar, primeiro sob a forma verbal/oral, depois escrita, mais tarde por telefone e, hoje em dia por internet, telemóvel, chegámos à lua e continuamos a descoberta do universo, provavelmente o maior desafio atual da inovação. Definição dada pelo economista americano Paul Samuelson: “Economia é uma ciência social que estuda a administração dos recursos escassos entre usos alternativos e fins competitivos.”, ou seja a economia nasceu para dar respota ao problema da escassez, se bens fossem ilimitados e se encontrassem facilmente acessíveis, os mesmos não teriam um valor comercial e a economia de mercado não faria sentido, podemos então dizer que a origem da economia de mercado e de acordo com a definição dada por Samuelson, P.A. (2004) está na escassez e o seu valor comercial irá depender das leis de mercado, grau de abundância (oferta) e respetivo nível de satisfação de necessidades dos seus consumidores (procura). A necessidade da criação de um sistema de economia de mercado baseado na moeda deu-se a medida que a população mundial foi crescendo, razão pela qual os bens se foram tornando cada vez mais escassos, papel de relevante preponderância assumiu a inovação no combate a trvagem dessa escassez, a título de exemplo, refira-se que os processos de produção agrícola não tivessem evoluido, teria sido impossivel alimentar um tao elevado aumento populacional, o que teria como consequencia um aumento também incomportável dos seus preços. Inovaçao promoveu o desenvolvimento agrícola e industrial proporcionando uma maior abundancia e diversidade de recursos, o que trouxe menor escassez e potenciou o aumento demográfico. Questões pertinentes se levantam. Que relação terá a inovação, quer com a procura, com a oferta e com a definiçao de preços? Constitui-se como o seu regulador? A inovaçao, na medida em que aumenta a oferta de produçao por incremento da capacidade produtiva atraves da optimizaçao de recursos, contribui para a diminuiçao de escassez, provocador por sua vez da diminuiçao de preços, aumento de oferta que será absorvida pelo aumento de consumo, quer por aumento da diversidade de produtos, que conduz a criaçao de necessidades de melhoria de qualidade de vida, quer pelo aumento dos consumidores, na medida em que contribui para a diminuiçao da escassez, que por sua vez suporta o crescimento demográfico, influenciador de aumento de preços. Ambos os aumentos (oferta e procura), com origem na inovação, determirão o preço de equilibrio de mercado. Esta é a resposta à questão sobre se o financiamento da inovação é essencial para a obtenção de retornos económicos e financeiros. Desde os economistas mais recentes, como Adam Smith, Robert Solow, Paul Samuelson, até aos mais clássicos, como Marx, Shumpeter ou Keynes, houve a preocupação por considerarem a inovação como fator crucial para o crescimento económico Freeman, (1991). Marx no século IX e Shumpeter no século XX colocaram a inovação no centro da teoria de crescimento (Freeman,1991). Na mesma linha de pensamento, financiar a inovação é financiar o crescimento económico, tornando-o combustível que alimenta toda a engrenagem, no entanto inovar é um processo arriscado, é um caminho longo a percorrer até a sua adoção pelo mercado, situação que carece da envolvência e cooperação entre os mais diversos intervenientes do ecossistema que gravita a sua volta.

 

Peter Benson e Richard Miller, especialistas em capital de risco, apresentaram no 9.º Encontro Nacional de Inovação COTEC Portugal, as suas perspetivas acerca do financiamento da inovação e debateram-nas com um painel de representantes de capitais de risco portuguesas. Peter Benson (2012) (especialista em capital de risco), Managing Partner da Sunstone Capital, argumentou que «A estrada para o sucesso não é uma linha reta, porque existe uma série de solavancos» introduzindo o conceito de “vale da morte”, sustentando que, no percurso da ideia criativa para o mercado, os projetos inovadores não se deparam apenas com um período onde o investimento tende a faltar, pois o chamado “vale da morte” não é, assim, apenas um. Para além da dificuldade de garantir investimento no período de criação de identidade (o «lonely valley»), as startups estão constantemente a atravessar outros “vales”: até à prova de conceito (o «starvation valley»), à verificação comercial (o «greed valley») e à prova de negócio («inertia valley»).  A solução para um percurso menos atribulado passa, na perspetiva de Richard Miller (2012), Vice-Presidente da National Association of Seed and Venture Funds, pelo estabelecimento de um ecossistema de inovação «capaz de assegurar a continuidade do financiamento». Neste puzzle, é pois crucial identificar os stakeholders, envolvê-los no projecto e juntar os diferentes intervenientes. Nesta linha de pensamento, Marques, J.P. (1998), refere a importância da cooperação entre os vários intervenientes do ecossistema, nomeadamente a cooperação entre a universidade e a indústria, reconhecendo que o nível de vida de uma nação depende da ciência e da tecnologia.

 

2 - Financiamento

 

Como já amplamente referido ter ideias não chega para as implementar e se ter sucesso, depende dos recursos próprios de que se dispõe e da necessidade de se recorrer a financiamento por capitais alheios. Pretende-se realizar uma breve abordagem às várias fontes de financiamento existentes, explicar a seu contributo para a promoção do sucesso da inovação e não realizar uma coletânea, espaço não existente neste trabalho. Um estudo recente (Aguiar, M. L. F., 2012, tese de mestrado), revelou um conjunto de fontes de financiamento à atividade empreendedora, que se analisarão seguidamente. Várias são as fontes, quer organismos públicos e privados que as identificam conforme consulta que se pode fazer aos sus sítios na internet.

 

Consoante o tipo de projeto, a fase em que se encontra e os montantes de investimento necessários, existem variadas formas de financiamento dispor. O começo de uma atividade empreendedora sem o financiamento necessário assume um risco elevado, podendo ser principal causa de mortalidade da atividade na sua nascença sem atingir a sua maturidade., conforme referência feita por Richard Miller, (2012), 9.º encontro nacional de inovação COTEC Portugal, aludindo aos “vales da morte”. Depois de definida a atividade empreendedora a desenvolver é altura de identificar as necessidades de capital para o arranque da mesma, para que possa cumprir todos os objetivos comerciais a que se propôs.

 

De acordo com um estudo recente (Aguiar, M. L. F., 2012, tese de mestrado), e após consulta das obras em que se baseou o referido estudo conclui-se que o capital que se precisa para financiar o projeto “são sempre escassos em relação aos fins a que se pretende que sejam afetos” conforme referido no manual do empreendedor, publicado pelo Instituto Politécnico de Leiria (IPL). O mesmo manual refere que as fontes de financiamento a que se deve aceder, se deve ter em consideração a fase em que se encontra uma empresa/atividade porque “existem formas e fontes distintas de financiamento”, conforme representado na figura n.º 1

 

Figura n.º 1 – Fontes de Financiamento referenciadas a fase de vida da empresa 

                                                

Fonte: Instituto Politécnico de Leiria - Manual do empreendedor, p. 45. (2008)

 

2.1 – Fontes de Financiamento

 

Existem varias formas de financiar o investimento em inovação quer nas atividades de investigação e desenvolvimento, quer arranque da atividade inovadora, quer no seu crescimento e sustentabilidade visando o seu sucesso.

Para (Ferreira et al., 2008) as fontes de financiamento mais utilizadas na criação de negócios, são “as poupanças do próprio empreendedor, empréstimos da família e amigos, capital de outros investidores, bancos e sociedades locadoras, e sociedades de capital de risco”, fontes, com exclusão das sociedade de capital de risco, que servem num primeiro momento e em pequena escala para financiar o processo de inovação/empreendorismo.

 

A inovação pode ser financiada de duas formas, nomeadamente através de fontes internas e externas. As fontes internas definem-se num primeiro momento com os recursos próprios, seguidamente com a inovação a gerar retornos financeiros, com o recurso a autofinanciamento através da retenção dos lucros obtidos, da gestão mais eficiente dos ativos ou do controlo eficiente de gastos. As fontes externas são mais diversificadas, e aqui é importante distinguir o financiamento através de capitais alheios, nomeadamente os créditos de fornecedores, empréstimos bancários, linhas de crédito, leasing e factoring e através de capitais próprios, como o aumento de capital, business angels, capital de risco e recurso ao mercado de capitais.

 

2.1.1 - Fontes Internas

2.1.1.1 – Recursos Próprios

 

Tem origem em poupanças pessoais, e para (Ferreira et al., 2008) tipicamente, estas fontes de financiamento apenas conseguem fornecer pequenos montantes de capital, sendo por isso adequadas para pequenos novos investimentos.

 

2.2. Fontes Externas

2.2.1 – A Família e os Amigos

 

Para (Ferreira et al., 2008) são um recurso frequente para reunir o capital necessário. Estas pessoas poderão investir pela sua relação com o empreendedor, na medida que esta relação pessoal ajuda a transmitir confiança e a ultrapassar a incerteza nas capacidades e qualidades do empreendedor.

 

 2.2.2 - Capital Próprio

 

Para Hendriksen (1999, p. 182), “O capital é formado por todos os recursos financeiros proporcionados por investidores externos, ou seja, capital próprio e capital de terceiros. O lucro é, assim, o resultado obtido por todos os fornecedores de capital à empresa, isto é, inclui juros pagos a credores e lucros distribuídos aos acionistas”, no entanto define-se próprio quando o mesmo é pertença da entidade investidora, o qual proporciona equilíbrio e solidez financeira nas fases iniciais da vida dos projetos, podendo o mesmo incluir, entre outros, poupanças, empréstimos particulares, capital de risco, business angels.

 

2.2.2.1 – Capital de Risco

 

De acordo com a Associação Portuguesa de Capital de Risco e Desenvolvimento, são fundos provenientes de novos sócios, ou seja são operações de participação no capital de sociedades como forma de reforço financeiro associado aos respectivos negócios (contabilizados como capital próprio do promotor). O Capital de Risco assume-se como fator relevante de reforço financeiro associado aos negócios, promovendo empresas e investimentos, permitindo dar consistência e credibilidade a novos projetos, fomentando a competitividade e apoiando a inovação e diversificação. Este tipo de financiamento como participação de capital minoritário e temporário comporta vantagens para os projetos, nomeadamente a partilha do risco e dinamização nos projetos com potencial de crescimento, funcionando não apenas como investidor, mas também como sócio que aporta para a sociedade o seu conhecimento do negócio. A decisão sobre as participações tem por base critérios objetivos de avaliação económica e financeira, tendo em conta, nomeadamente o perfil dos promotores; as características do projeto, o risco do negócio; as perspetivas de rentabilidade. O capital próprio representa assim um recurso investido na empresa/projecto em troca da posse de uma parcela desta(e) e consequente partilha de risco, a proporção detida define o grau de controlo do investidor e a parcela de lucros que lhe cabe, após a determinação da percentagem a reter na empresa, a qual irá contribuir para a sua capacidade de auto financiamento, tudo isto definido no quadro de uma política pré-definida de distribuição de dividendos (Modigliani & Miller - 1958 e 1963). De uma forma geral, a rentabilidade de um investimento de capital de risco pode ser obtida de duas formas: ou o operador obtém mais-valias com a venda da participação (que pode ser feita na totalidade ou parcialmente), apenas no momento da saída (ou aposta principalmente na obtenção de um dado nível de rentabilidade para o capital investido, privilegiando, por exemplo, a obtenção dedividendos. Em ambos os casos, a rentabilidade do operador pode ser reforçada por uma prestação de serviços especializados à participada, por contrapartida de uma comissão de gestão ou acompanhamento (APCRI, 2009). Para além da designaçao de capital de risco e tambem desigando de capital de investimento, capital de desenvolvimento, venture capital e private equity.

 

No sector do capital de risco, as diferentes fases do ciclo de investimento são descritas na tabela n.º 1, conforme informação retirada da unidade de coordenaç~~ao do plano tecnol´´ogico

 

Tabela n.º 1 - Fases de Investimento em Capital de Risco

Fonte: https://www.planotecnologico.pt/document/Doc_6.pdf

 

2.2.2.2 – Business Angels

 

De acordo com Associação Portuguesa de Business Angels, “Os Business Angels são investidores individuais que realizam investimentos de forma profissional, diretamente ou através de sociedades veículo, no capital de pequenas e médias empresas com elevado potencial de valorização. Além do investimento monetário, aportam também aos projectos empresariais conhecimentos técnicos ou de gestão, bem como redes de contactos.

Tipicamente, os business angels cedem capital a empresas emergentes, com determinado grau de inovação, cuja dimensão e ainda muito pequena para atraírem capital de risco. Por outro lado, tendem a assumir um papel de grande colaboração com o empresário, contribuindo com a sua experiencia”. Segundo o sitio da Associação Portuguesa de Business Angels, efetuam investimentos “em oportunidades nascentes (tipo “start-up” ou “early stage”). Participa em projetos com “smart Money”, isto é, para além de aportar capacidade financeira, também contribui com a sua experiência e network de negócios.”, Conforme se demonstra na figura n.º 2.

 

Figura n.º 2 – Fases da vida da empresa em que os Business Angels investem

Fonte: Fonte: Associação Portuguesa de Business Angels (2013)

 

2.2.3 – Capitais Alheios

2.2.3.1 – Crédito Bancário de médio e longo prazo

 

Segundo (Ferreira et al., 2008) São operações pela qual o banco concede a um cliente um determinado empréstimo, comprometendo-se este a proceder ao reembolso em data ou datas previamente acordadas, as quais se situam num prazo superior a um ano. Podem revestir as seguintes formas; Empréstimo Bancário, Leasing mobiliário e imobiliário.

 

2.2.3.2 – Financiamento da atividade corrente

 

Para financiar a atividade corrente da empresa quer ao nível operacional quer ao nível da investigação e desenvolvimento, existem os seguintes recursos; créditos de curto prazo, desconto comercial, desconto de livranças e contas correntes caucionadas

 

2.2.3.3 – Fundos Provenientes de Programas de Apoio

 

O programa de apoio FINICIA é definido de acordo com o portal do IAPMEI, como “instrumentos de capital e divida configurados para, de forma individualizada ou combinada, corresponderem as necessidades de financiamento de iniciativas empresariais reconhecidas como socialmente meritórias, economicamente sustentáveis e que revelem potencial de desenvolvimento”. Através deste programa pretende-se alargar o acesso ao capital de risco e a garantia mútua em condições favoráveis como também ceder capital alheio através de um mecanismo denominado de micro crédito, as empresas de pequena dimensão, recursos essenciais ao desenvolvimento da sua atividade nas fases iniciais do seu ciclo de vida. Na prática, os bancos concedem empréstimos bancários e as sociedades de garantia mútua garantem parte desses empréstimos, o estado bonifica alguns custos do processo e também partilha risco através do fundo de contra garantia mútua (guia do empreendedor (2012).

 

Os incentivos QREN (Quadro de Referência Estratégico Nacional), nomeadamente o sistemas de incentivos a inovação e à investigação e desenvolvimento tecnológico nas empresas, são definidos pelo programa POFC (Programa Operacional de Fatores de Competitividade (Programa Compete) que os sustenta como “apoios destinados estimular a qualificação do tecido produtivo, por via da inovação, do desenvolvimento tecnológico e do estímulo do empreendedorismo, bem como da melhoria das diversas componentes da envolvente da atividade empresarial.”

 

Outros apoios existem como fonte de financiamento da atividade empresarial inovadora, que não cabem neste trabalho de forma a não o torna descritivo e exaustivo, que podem ser consultadas nas diversas entidades que fazem parte do sistema nacional de inovação.

 

3 – Suportes de Decisão

 

Quer para o financiador, quer promotor/investidor, a inovação é um processo caro, onde recursos significativos são gastos para inicia-la, dirigi-la, e sustentá-la. É um processo que leva tempo, o que significa que os meios de suporte devem ser confirmados até que o processo esteja completo (Fagerberg, J, Mowery, C. D., Nelson, R.R., 2011). A inovação necessita de financiamento em todas as fases do seu processo para o sucesso da sua promoção, difusão e adoção pelo mercado. A forma como os dinheiros públicos e a restante indústria financia, impulsiona e dá sustentabilidade as empresas e as suas atividade inovadoras está diretamente ligada aos estudos de viabilidade económica e financeira que lhes dá suporte às decisões. Estes estudos que assumem a forma previsional são uma ferramenta essencial, porque além de permitir analisar a viabilidade do projeto, ajudam a detetar os ajustamentos necessários ao seu sucesso (Stancill, McNeill, 2002). A avaliação do valor e redução do risco associado à incerteza sobre o retorno dos investimentos a efetuar são os seus principais objetivos, que revelam a sua elevada importância ao serem exigidos nas mais diversas situações que envolvam decisões de financiamento, nomeadamente apresentação de candidaturas a apoios/subsídios estatais e comunitários de acordo com os regulamentos do quadro comunitário de apoio atualmente em vigor, por outro lado, constituem uma forma eficaz de apoio à obtenção e negociação de condições de crédito junto das instituições bancárias.

 

Bodie, Kane e Marcus (1998), definiram que investimento implica comprometer recursos na expectativa de obter benefícios futuros, o qual incorre num custo de oportunidade, na medida em que sacrifica a hipótese de poder despender os seus recursos hoje, em ambiente certo, optando por investi-los numa alternativa que devolverá resultados futuros, em ambiente de risco e incerteza. Damodaran (1997, p. 160), sugere que um investimento, numa definição aplicada a projetos de investimento em particular, pressupõe um custo inicial significativo, a geração de fluxos financeiros durante um determinado período de tempo e a inclusão de um valor residual correspondente à valoração dos ativos utilizados no projeto no final da vida útil do mesmo. Numa óptica económica, perante a hipótese de investimento, é expectável que os resultados obtidos no futuro se revelem superiores aos recursos aplicados no momento presente.

 

Estes suportes de decisão que podem ser complementados por outros que o valorizem são na opinião de Stancill, McNeill, (2002), constituídos por uma compilação de três elementos de informação previsional, constituída por uma demonstração de resultados, um balanço patrimonial e uma demonstração de fluxos de caixa, previsões que devem em sua opinião cobrir um período de cinco anos e incluir três cenários, nomeadamente o mais provável, um pessimista e um otimista. Os elementos atrás enunciados devem se basear em estimativas fidedignas, cada uma apoiada em diferentes estudos de mercado e técnicas/ferramentas complementares de análise (Stancill, McNeill, 2002). O mesmo autor esclarece que as estimativas atrás enunciadas que permitiram construir os dois primeiros elementos, seguidamente permitirão produzir a demonstração dos fluxos de caixa, demonstração de elevado interesse para quem financia e é financiado pois é aquela que permite demonstrar qual será a capacidade financeira em cada período no tempo do financiamento, isto é qual são os meios libertos líquidos do projeto em cada momento no tempo. Stancill, McNeill, (2002), esclarece que as previsões não são à prova de falhas, por isso os empreendedores devem prever cenários alternativos. De forma a ultrapassar todos os “vales da morte” enunciados por Peter Benson (2012), no 9.º encontro nacional de inovação COTEC Portugal e descritos no ponto n.º 1 deste capítulo será necessário ao negociar com as possíveis financiadores a certificação de que será obtido um compromisso para todo o financiamento necessário, de forma a fazer com que o empreendimento inicie com sucesso e passe pelas fases difíceis esperadas (Stancill, McNeill, 2002). Nesse sentido Stancill, McNeill, (2002) reformulou a sua 1ª lei sobre o empreendorismo, “se você quiser voar para o paraíso financeiro, tenha combustível suficiente para fazer a viagem, porque não há postos de gasolina no meio do caminho!”. O mesmo autor afirma que é impossível saber exatamente de quanto dinheiro um novo empreendimento irá precisar durante seus primeiros cinco anos, no entanto é possível fazer estimativas realistas.

 

Uma última nota, se não a mais importante referida por Stancill, McNeill, (2002), de que a simplicidade é uma virtude na apresentação de declarações financeiras, onde os itens das declarações devem se mostrar de forma resumida, reservando todos os detalhes para tabelas separadas ou notas de rodapé ligadas às declarações financeiras, nas mesma linha afirma que se deve certificar que as declarações estejam conforme os formatos normalmente aceites, onde a criatividade não é bem-vinda nem entendida, pois distorce realidades e cenários hipotéticos.

 

Em suma a realidade não é controlável e o processo de avaliação e decisão baseia-se em informação previsional, pelo que a conjuntura e os fatores externos que condicionam o projeto estão envoltos num ambiente de incerteza, pelo que a variação nesse ambiente produzirá efeitos, positivos ou negativos, no cenário inicialmente previsto. Através da análise do risco e da incerteza, é formada uma perspetiva mais abrangente e mais útil no processo de tomada de decisão, ao mesmo tempo que permite avaliar o interesse das alternativas de investimento disponíveis. (NEVES, 2002, p. 277). Para se saber mais sobre a avaliação de investimentos deve-se consultar informação técnica disponível, descrição detalhada que não faz parte do objetivo deste trabalho.

 

3.    Conclusão

 

Este ensaio abordou de forma clara e objetiva, o contributo da inovação enquanto fator determinante para o desenvolvimento da sociedade, explorando o conceito de inovação enquanto processo com fim último de obtenção de lucratividade, inserido num ecossistema que visa o seu suporte e fomento.

 

Constata-se que a inovação encerra em si um elevado grau de incerteza, provocadora de um elevado risco ao qual se associa a dificuldade de acesso sem constrangimentos ao seu financiamento. A globalização dos mercados trouxeram como consequência o aumento de competitividade entre os agentes que nela intervêm, exigindo esforços redobrados de inovação numa economia assente no conhecimento, quer nos produtos, quer nos seus processos que se consigam traduzir em aumento de rentabilidade, passando os agentes do ecossistema que rodeia o processo de inovação a estarem alinhados com um novo paradigma, que se traduz na responsabilidade acrescida de que a inovação além de funcionar é vendável.

 

Sendo o ambiente em que nasce a ideia criativa, se transforma e se concretiza importante para a decisão de financiar, não é menos importante os suportes a essa decisão, nomeadamente os estudos de viabilidade económica e financeira que demonstrem de forma verdadeira e credível os meios financeiros que os projetos consigam libertar, meios que voltaram a reentrar no processo dando-lhe sucesso e sustentabilidade

 

Existiu uma grande dificuldade em arranjar bibliografia sobre o tema aqui descrito, que não fosse meramente descritiva das fontes, características e tipos de apoio que justificam a sua existência, aliado a dificuldade em obter os dados das fontes de financiamento existentes de uma forma condensada. Situação que por si só permitiria um esforçado trabalho de investigação.

 

Não coube ao presente trabalho a preocupação com a investigação exaustiva sobre a possível relação entre o tipo de inovação a financiar e a menor ou maior dificuldade de acesso a fontes de financiamento, tema que deverá merecer uma atenção aprofundada futuramente.

 

4.    Referências

 

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